domingo, 6 de março de 2011

"Tudo o que sei é que devo morrer em breve; mas o que mais ignoro é essa mesma morte, que não saberei evitar." Victor Hugo

A morte é, sem sombra de dúvidas, o maior mistério que existe. Mistério... não gosto muito dessa palavra para descrever a morte. Prefiro antes, segredo. É um segredo. 

Não gosto de segredos. Nunca gostei. E, desde pequena, mesmo sempre muito quieta e silenciosa, tentava perceber todos aqueles segredos que pairavam no ar e aos quais o meu acesso era limitado. Contudo, a morte nunca foi um segredo apelativo (até a mim me parece estranho ler isto... estou a fazer-me entender?). Nunca pensei em pesquisar nada sobre o assunto. A resposta: Está no Céu. era mais do que suficiente para a aceitar.

Porém, este segredo deixou de ser uma simples palavra nos poemas de Bocage ou Byron alguns meses depois de fazer 15 anos, quando a pessoa que mais amei até hoje desapareceu. A princípio, fiquei confusa. E agora? Mas, com o passar dos dias, acreditava que tinha de encontrar algures uma resposta. Sentia que me tinham tirado o chão debaixo dos pés, que faltava algo dentro de mim.

Ler sobre o assunto só pareceu trazer mais questões, mais segredos. Palavras como alma e espírito revelaram-se  tão secretas quanto morte. Li Bocage, Byron, Poe e outros à procura de respostas. Enchi capas de cadernos com citações sobre o assunto. Em suma, persegui a Morte mas ela nunca se deteve. Se encontrei respostas? Não, claro que não.

Alguns anos depois, foi a vez de um grande amigo meu seguir pelo mesmo caminho secreto. Mais uma vez, as perguntas, já semi-camufladas, perseguiram-me e eu a elas. Dead end.

Já na China, quando menos esperava, outro grande vazio instalou-se dentro de mim. 

A verdade é que nunca fica ou parece mais fácil. O tempo não cura. E, de tempos a tempos, as perguntas surgem, de novo, e a frustração de nos encontrarmos sem resposta, abala-nos.
 
Nos últimos dias que passei na China, em Pequim, corri a Livraria de Línguas Estrangeiras de uma ponta a outra. O livro que mais me chamou à atenção, pela capa, confesso, foi Her Fearful Symmetry da Audrey Niffenegger. Só pensava em comprá-lo mas, até mesmo na China, o livro era extremamente caro e a minha mala já não aguentava muito mais peso. Desisti da ideia.

Um dia, em Braga, passeava na Fnac e, por acaso, encontrei o único exemplar do livro numa prateleira de literatura estrangeira, versão livro de bolso, e nem pensei duas vezes. Infelizmente, fui adiando a leitura e só agora, nas idas para o Porto e regressos a Braga, é que fui lendo.

Esta é a história de Elspeth (sempre adorei esse nome, aproveito para partilhar), que morre de leucemia aos 44 anos e como a sua morte vai afectar as vidas daqueles que a amavam, daqueles que a odiavam ,daqueles que nem sequer a conheciam e, ainda,  a existência ou não existência da própria Elspeth. Não vou aprofundar mais porque acho que isso poderia eventualmente estragar o vosso possível desejo de leitura. Não pensei, no entanto, que se trata de uma simples história sobre a morte. Uma das coisas que me fez gostar imenso do livro foi o facto do sentimento Amor ser abordado como algo multifacetado.

O que na verdade quero partilhar aqui  é o facto de, ao longo do livro, dar comigo muitas vezes a pensar E se...  Agora que o terminei e adorei, sei que vou passar muito tempo a questionar-me... Uma coisa tenho a certeza, devemos sempre valorizar a nossa alma acima de tudo.

Liebend & The Pen

2 comentários:

Cloreto de Sódio disse...

A eterna pergunta de todos nós, os indecisos, os cheios de dúvidas e de algumas amarguras recentes (E se...?)obriga-nos a uma reflexão da qual saímos igualmente sem reposta. Tempo para passarmos a outro SE, ao If, de Kippling, mais positivo, mais optimista, mais sorriso e menos lágrima. Bj., Liebend.~

PS.: Ainda vou ler Her Fearful Symmetry. Obrigado pela sugestão.

Mad Hattress disse...

Espero que goste, Professor.
Um beijinho.