quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

São coisas

Desde que acabei o Mestrado, tenho-me sentido uma verdadeira inútil. Vou ocupando os meus dias com o voluntariado, trabalhos manuais, o ocasional filme (hoje vi Blue Valentine) ou umas séries. Passeio os cachorros de noite, quando ninguém está por perto e posso ir com a música em altos berros no mp3.

Tenho aproveitado para ler alguns dos meus cadernos de quando andava no secundário. Apercebi-me de algo que, por mais hilário ou rídiculo que vos possa parecer, a  mim aflige-me. Naquela altura, a minha paixão pela escrita era tanta que não conseguia passar uma aula sem escrever pelo menos duas ou três páginas. E bem escritas.

Ultimamente, é raro ler ou ecrever. As duas coisas que mais gosto de fazer. Ou, pelo menos, as duas coisas que mais gostava de fazer. Era algo tão natural em mim e que, vá-se lá perceber porquê, foi-se perdendo por entre o remoinho que é a vida e isso tem-me deitado abaixo. É como se uma parte de mim se estivesse a apagar. Talvez já se tenha apagado. 

Pergunto-me se isto fará parte do meu crescimento. À medida que as responsabilidades aumentam, perdemos a vontade de nos perdermos nos nossos amores de infância. É que desde que me lembro, não saía de casa sem um livro, um caderno e um lápis. E agora, já não me lembro da última vez que esses tês itens me acompanharam rua fora.

Gostava de voltar aos tempos em que nada mais me importava do que ler o máximo de livros possível e escrever o melhor conto de sempre.

Das duas, uma: ou estou velha ou estou a perder qualidades. Talvez ambas.

2 comentários:

Ana C. disse...

Passamos por muitas fases ao longo da nossa vida. Por muitos humores, amores, cansaços, rotinas. Descansa, que a leitura voltará. Quanto à escrita, estás a escrever aqui, não perdeste completamente a vontade ;)
Tudo é cíclico.

j C k disse...

Talvez tenhas perdido algo na tua relação à escrita, à dos outros e também à tua. Talvez seja preciso leres algum dos livros que mais gostavas de ler anos atrás, ou que redescubras a tua escrita. Que reencontres o prazer de pensar num texto sem ser por razões de trabalho, ou obrigação administrativa, associado ao prazer de sentires que por mais que escrevas, por mais rápido que o faças, a tua escrita nasce e forma-se numa folha de papel como uma pintura numa tela, é a tua escrita, a tua letra, sentes-te como se desenhasses cada uma delas e com todas formasses uma composição, uma obra de arte que gostas de ver aparecer a trinta centímetros dos teus olhos, mesmo ali por baixo dos teus dedos azulados pela tinta. Isto dificilmente se sente, por mais que se escreva, com os meios informáticos como o computador ou o telemóvel. O facto de escrever por carta em vez de por mail pode ser uma redescoberta também, arranjar um correspondente noutro lugar que os que conheces, noutro país, para quem a tua identidade será a tua letra e o teu texto. Não sintas que algo de ti se apagou, pensa antes que o perdeste, como quem perde os óculos e passado uns instantes de trapalhice, volta a encontra-los pousados num canto de um móvel qualquer, e logo os volta a pôr e a ver claro de novo.
É arte: quando a inspiração perde-se, a pratica, as tentativas, a experimentação podem ser as chaves para voltar a abrir as portas.
Beijinhos