domingo, 5 de setembro de 2010

Pirilampo, voa, voa...

Sempre que escrevi em blogs, tive o hábito de, por vezes, transcrever para eles pequenos excertos de livros que estivesse a ler, que me dissessem algo em particular. Aqui me estreio neste.

O pirilampo esvoaçou para o ar bastante tempo depois, como se lhe tivesse ocorrido algo de repente. Abriu as asas e voou rapidamente por cima do corrimão até flutuar na palidez da escuridão. Delineou um célere arco ao lado do depósito de água, como se tentasse recuperar um intervalo de tempo perdido. Por fim, após pairar durante uns escassos segundos como se observasse a linha curvada da sua própria luz a fundir-se com o vento, esvoaçou para leste.
O rasto da sua luz permaneceu dentro de mim bastante tempo depois de o pirilampo ter desaparecido e essa sua pálida e ténue luminosidade continuava a pairar como uma alma perdida na espessa escuridão por trás das minhas pálpebras.
Tentei várias vezes estender a mão na escuridão, mas os meus dedos não tocavam em nada. O ténue brilho perdurava, mas estava para além do meu alcance.
Haruki Murakami, in Norwegian Wood

Liebend, Me & Myself  

1 comentário:

Meno disse...

Olá
Não imaginas quantos pirilampos eu vi sulcando os céus africanos. Nos dias de noite escura, quando a linha do horizonte parecia perdida nos meus sonhos de menino, lá estavam eles. Pareciam correr uns contra os outros, competindo por lugar no espaço ou por algo que pretendiam mais do que qualquer outra coisa. No entanto, nem sempre atingiam o seu destino. Alguns ficavam entre os dedos daqueles que os admiravam!Ainda hoje penso se no fim não teriam morrido no suor das mãos dos seus admiradores.