sábado, 14 de agosto de 2010

Why is a raven like a writing desk?

Desde pequena que um dos contos que mais me faz sorrir e andar com a cabeça no ar é Alice no País das Maravilhas. Comecei por ver o filme da Disney em VHS, dobrado em Português do Brasil ( que aproveito para lembrar que não é o Português que eu falo e escrevo). Era quase um ritual em
casa dos meus Avós, após sair das aulas. Antes dos trabalhos de casa, sentava-me na mesa redonda da sala de estar e, enquanto lanchava as torradas de pão alentejano (não há melhores!), deixava-me levar para o mundo da Alice. E isto durou muitos anos.
Já naquela altura, a minha personagem favorita não era a Alice. Não. Na verdade, achava a Alice uma menina tola e influenciável, demasiado curiosa e distraída. Para mim, a personagem mais interessante era o Gato Cheshire. A maneira como deixava Alice confusa, umas vezes ajuda
ndo-a, outras vezes conduzindo-a a problemas, mas sempre com um sorriso. O desaparecer e deixar só o sorriso no ar... Na criança que comia torradas, essa imagem do gato fazia-a acreditar que acontecesse o que acontecesse, um sorriso deve permanecer nas nossas caras. Hoje, já tenho outras interpretações das atitudes do Cheshire, como aliás era de esperar visto que quando crescemos vamos tomando consciência de que os desenhos animados também são feitos à imagem das pessoas, mesmo que tenham a forma de um gato. E sejamos sinceros, Cheshire ensina uma valiosa lição à menina loira, e a todos nós, quando a faz entender que não vale a pena ir contra a loucura, já que cada pessoa tem a sua e onde quer que ela vá acabará sempre por encontrar alguém. Afinal, se pensarmos bem, não é no País das Maravilhas mas sim na vida real que temos de lidar com várias pessoas, cada uma com as suas virtudes e defeitos. Para quê tentar ir contra isso e acreditar que há alguém que é virtuoso em quase tudo o que faz? A perfeição não existe, lamento informar-vos. Ninguém é perfeito, todos cometemos erros e o melhor que temos a fazer é mesmo sorrir.
Neste pequeno excerto, Cheshire aparece a Alice, entoando a primeira e última estrofes do famoso poema Jabberwocky de Lewis Carrol:

'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.



Ainda não me debrucei com atenção sobre o livro, confesso o pecado, mas está na minha enorme lista de livros a ler e preparo-me para encurtá-la o mais depressa possível, visto que ela cresce sempre que lhe toco.
Este ano, na China, tive a oportunidade de assistir no cinema ao filme de Tim Burton, em 3D. Confesso que talvez não faça grande diferença o filme ser em 3D mas, como grande fã que sou, tanto da estória como do realizador e de alguns elementos do elenco, não perdi a oportunidade de o ver! Como era de esperar, quase saltei da cadeira quando a grande cara de Cheshire com o sorriso matreiro estampado nela encheu a sala escura.


Mais, assim que vi as estatuetas de Alice e do Chapeleiro Louco à venda, comprei-as. Com muita pena minha, só tinham essas duas e o Cheshire não está na minha colecção de figuras. Por enquanto.
Ainda na China e antes da estreia do filme de Burton, andei viciada num pequeno anime, baseado no manga de Jun Mochizuki, Pandora Hearts. Dando vida a muitas das personagens de Alice e a outras que são pura imaginação do autor, esta estória faz-nos perguntar constantemente: Quem matou Alice?


No entanto, a Alice de que quero falar hoje é diferente de todas as outras que já referi em cima. É a Alice do famoso jogo de Mcgee.
Em 2000, saiu para o PC um jogo que viria a revolucionar a maneira como Alice era vista pelo mundo. A jovem doce e sonhadora dava lugar a uma rapariga traumatizada e que nos transporta para um país das maravilhas não tão maravilhoso como isso. Após um incêndio, Alice perde a família e é levada para um hospital psiquiátrico.Os olhos da menina não são doces e curiosos, Cheshire não é da cor do algodão-doce e o sorriso é ainda mais matreiro e assustador do que aquele que estamos habituados e, para nos deixar ainda mais admirados, a mesa de chá do Chapeleiro Louco não é tão convidativa como desejamos.


Onze anos depois do primeiro jogo, Alice volta ao PC. Alice Madness Returns é um dos jogos que mais aguardo. Com certeza que todos vós sabem que nem sempre o nosso país das maravilhas é cheio de encanto e cheiro a torradas caseiras.

Enquanto aguardamos, vai uma chávena de chá?

Liebend

1 comentário:

Meno disse...

Olá. Recordar é também viver!No entanto, quero dizer-te que o grande problema da humanidade tem sido prever o futuro com base nos acontecimentos do passado. Aguarda, mas não tenhas ilusões de que a "velha" Alice te vá aparecer da mesma forma, nem mesmo que o "teu" gato sabichão, se vá parecer com o velho Cheshire. Espero que, quer ela, quer ele, tenham novos talentos. Depois, sentar-nos-emos os dois (quem sabe os quatro) comendo as "torradas da avó", pelas receitas que ela deixou.